Fica difícil de falar da cultura brasileira, sem mencionar as influências africanas no nosso dia a dia, seja na música, culinária, dança e literatura, entre outras áreas. O mesmo pode-se dizer com relação à língua portuguesa, isso porque dos oito países que falam o português oficialmente, seis estão no continente africano. Além do Brasil e Portugal, falam o português: Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor.
Mas como é que essa influência africana entrou na língua portuguesa de uma maneira tão forte? É que nos países da África, além de falar o português, eles falam a língua local. E apesar da colonização desses países da África pelos portugueses, os africanos não deixaram de se comunicar em suas línguas maternas (nagô, iorubá, quicongo, umbundo e quimbundo).
Na época do tráfico de escravos negros para o Brasil, um dos cuidados que os colonizadores tinham era o de não transportar muitos negros que fossem da mesma etnia, ou seja, que não falassem a mesma língua. Assim, eles acreditavam que os negros não se comunicariam e, portanto, não conseguiriam se rebelar contra a condição de escravidão.
Mas ao chegar ao Brasil, e por aqui ficando, a influência nos quase quatro séculos de escravidão (e cerca de cinco milhões de africanos) fez com que houvesse o inverso do que desejava o colonizador: os negros africanos agregaram palavras, expressões e sua cultura aos povos que aqui já viviam, que eram os índios e os europeus.
O resultado dessa contribuição rica dos negros para a cultura brasileira foi um vasto vocabulário de palavras originárias da África, que usamos até hoje no nosso cotidiano, como acarajé, babá, babaca, cachaça, caçamba, dengo, moleque, pindaíba, entre outras.
Veja a relação, e o significado, de algumas palavras africanas incorporadas no nosso vocabulário:
Acarajé - Bolinho feito de massa de feijão-fradinho frito no azeite de dendê e servido com camarões secos.
Afoxé - Dança semelhante a um cortejo real, que desfila durante o carnaval em cerimônias religiosas.
Agogô - Instrumento musical formado por duas campânulas ocas de ferro.
Axé - Saudação; força vital e espiritual.
Babá - Ama-seca; pessoa que cuida de crianças em geral; pai-de-santo; a origem é controvertida sendo, para alguns estudiosos originária do quimbundo, e para outros do idioma iorubá.
Babaca - Tolo; boboca.
Bagunça - Baderna, desordem.
Caçamba - balde para tirar água de um poço; local onde se depositam detritos.
Cacimba - Poço ao ar livre, onde se retém a água da chuva para diversas finalidades.
Caçula - O mais novo.
Catinga - Fedor; mau cheiro.
Cochilar - Breve soneca. Sono leve.
Cuíca - Instrumento musical que emite um ronco peculiar.
Dengo - Gesto de carinho
Encabular - Envergonhar-se. Ficar vexado por algum motivo.
Fofoca - Intriga. Mexerico
Fuzuê - Festa. Confusão. Turbilhão nas águas de um rio.
Lero-lero - Conversa fiada. Palavreado vazio.
Manha - Choro infantil sem causa. Birra. Malícia. Ardil. Artimanha. Habilidade manual.
Matuto - Indivíduo que vive no mato. Na roça. Pessoa ignorante e ingênua.
Miçanga - Conta de vidro miúda. Ornatos feitos com esse tipo de conta. Colar.
Mochila - Alforge. Bornal que se leva às costas.
Muvuca - Confusão. Algazarra.
Nenê - Criança recém-nascida ou de poucos meses. Provém do Umbundo "nene", que quer dizer pedacinho, cisco.Odara - Bom. Bonito. Limpo. Branco. Alvo.
Pinga - Aguardente extraída do caldo da cana.
Quengo - Cabeça. Região próxima da nuca.
Saravá - Palavra usada como saudação nos cultos afro-brasileiros, significa "salve".
Sapeca - Diz-se de moça muito namoradeira ou assanhada. Diz-se também da criança muito arteira.
Serelepe - Vivo. Buliçoso. Astuto. Esperto.
Tagarela - Pessoa que fala muito e à toa.
Trambique - Negócio fraudulento. Vigarice. Logro.
Xará - Pessoa que tem o mesmo nome que outra.
Xodó - Amor. Sentimento profundo que se demonstra por algo ou alguém. Carinho.
Zoeira - Conhece-se também por Azueira. Algazarra. Falatório.
Zombar - Tratar com descaso. Escarnecer. Gracejar.