Todo período literário tem seus altos e baixos e, quando há o enfraquecimento das concepções de determinada escola literária, surge um novo movimento que apresenta idéias contrárias ao anterior. No século XVIII, as formas artísticas do Barroco já se encontram desgastadas e decadentes. A literatura que surge para combater a arte barroca e sua mentalidade religiosa e contraditória é o Arcadismo ou Neoclassicismo, que objetiva restaurar o equilíbrio por meio da razão. Os artistas desse período procuravam recuperar e imitar os padrões artísticos do Renascimento, tomados então como modelo.
A constante e obrigatória utilização de imagens clássicas tradicionais acaba sedimentando uma poesia despersonalizada.
O poeta deve expressar sentimentos comuns, genéricos, reduzindo suas criações a fórmulas convencionais. O conteúdo passional, a impulsividade e o frenesi íntimo, que costumamos ver no amor, são dissolvidos em pura galanteria, isto é, a paixão normalmente transforma-se num jogo de galanteios.
Quando o poeta declara seu amor à pastora, o faz de uma maneira elegante e discreta, exatamente porque as regras desse jogo exigem o respeito à etiqueta afetiva.
O pastoralismo, a galanteria, a clareza, a recusa em intensificar a subjetividade, o racionalismo neoclássico que transforma a vida num caminho fácil para as almas sossegadas, eis alguns dos elementos que configuram o Arcadismo na estrofe a seguir:
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Marília de Dirceu, Tomás A. Gonzaga