Saltar navegação

LITERATURA

Ao longo de sua história, o homem utilizou diferentes instrumentos e linguagens como forma de expressão artística: as cores, os sons, os gestos, a expressão corporal, as palavras, entre outros. Surgiram, assim, as diferentes manifestações artísticas: a pintura, a escultura, a arquitetura, a dança, a música, a literatura.

Mas, afinal o que é a literatura?

Qual a diferença entre um texto literário e não literário?

O que leva o homem a produzir e apreciar literatura?

Neste capitulo, vamos conhecer e desfrutar daquela que trabalha com as palavras.

 

Texto literário e texto não-literário

Relacionando o texto literário ao não-literário, devemos considerar que o texto literário tem uma dimensão estética, plurissignificativa e de intenso dinamismo, que possibilita a criação de novas relações de sentido, com predomínio da função poética da linguagem. É, portanto, um espaço relevante de reflexão sobre a realidade, envolvendo um processo de recriação lúdica dessa realidade.

No texto não-literário, as relações são mais restritas, tendo em vista a necessidade de uma informação mais objetiva e direta no processo de documentação da realidade, com predomínio da função referencial da linguagem, e na interação entre os indivíduos, com predomínio de outras funções.

A produção de um texto literário implica:

  • a valorização da forma
  • a reflexão sobre o real
  • a reconstrução da linguagem
  • a plurissignificação

 

Não é o tema, mas sim a maneira como ele é explorado formalmente que vai caracterizar um texto como literário. Assim, não há temas específicos de textos literários, nem temas inadequados a esse tipo de texto.

Os dois textos que seguem têm o mesmo tema - o açúcar: no primeiro, a função poética é predominante. É uma das razões para ser considerado um texto literário. Já no segundo, puramente informativo, há o predomínio da função referencial.

 

TEXTO I

O açúcar

O branco açúcar que adoçará meu café

nesta manhã de Ipanema

não foi produzido por mim

nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

 

Vejo-o puro

e afável ao paladar

como beijo de moça, água

na pele, flor

que se dissolve na boca. Mas este açúcar

não foi feito por mim.

 

Este açúcar veio

da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.

 

Este açúcar veio

de uma usina de açúcar em Pernambuco

ou no Estado do Rio

e tampouco o fez o dono da usina.

 

Este açúcar era cana

e veio dos canaviais extensos

que não nascem por acaso

no regaço do vale.

 

Em lugares distantes, onde não há hospital

nem escola,

homens que não sabem ler e morrem de fome

aos 27 anos

plantaram e colheram a cana

que viraria açúcar.

 

Em usinas escuras,

homens de vida amarga

e dura

produziram este açúcar

branco e puro

com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.


"O açúcar" (Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980, pp.227-228)

 

TEXTO II

A cana-de-açúcar

Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses no século XVI. A região que durante séculos foi a grande produtora de cana-de-açúcar no Brasil é a Zona da Mata nordestina, onde os férteis solos de massapé, além da menor distância em relação ao mercado europeu, propiciaram condições favoráveis a esse cultivo. Atualmente, o maior produtor nacional de cana-de-açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o açúcar, que em parte é exportado e em parte abastece o mercado interno, a cana serve também para a produção de álcool, importante nos dias atuais como fonte de energia e de bebidas. A imensa expansão dos canaviais no Brasil, especialmente em São Paulo, está ligada ao uso do álcool como combustível.

"A cana-de-açúcar" (Vesentini, J.W. Brasil, sociedade e espaço. São Paulo, Ática, 1992, p.106)

 

TEXTO III

A queimada

Num alvoroço de alegria, os homens viam amarelecer a folhagem que era a carne e fender-se os troncos firmes, eretos, que eram a ossatura do monstro. Mas o fogo avançava sobre eles, interrompendo-lhes o prazer. Surpresos, atônitos, repararam que a devastação tétrica lhes ameaçava a vida e era invencível pelo mato adentro, quase pelas terras alheias. (...) O aceiro foi sendo aberto até que o fogo se aproximou; a coluna, como um ser animado, avançava solene, sôfrega por saciar o apetite. Sobre a terra queimada na superfície, aquecida até o seio, continuava a queda dos galhos. O fogo não tardou a penetrar num pequeno taquaral. Ouviam-se sucessivas e medonhas descargas de um tiroteio, quando a taboca estalava nas chamas. O fumo crescia e subia no ar rubro, incendiado, os estampidos redobravam, as labaredas esguichavam, enquanto a fogueira circundava num abraço a moita de bambus.

(Fragmento. Graça Aranha. Canaã, Rio de Janeiro,F.Briguiet, pp.111-113)

 

TEXTO IV

Incêndio destrói prédio de 4 andares no Centro

Um incêndio, possivelmente provocado por um curto-circuito, destruiu no início da madrugada de ontem um prédio de quatro andares na Rua Teófilo Otoni, 38, no Centro. O fogo começou no primeiro andar, onde funcionava uma empresa especializada na venda e fabricação de componentes eletrônicos, a Mec Central. O prédio era de construção antiga e estava em obras; como havia grande quantidade de madeira estocada, a propagação do fogo foi rápida. A ação dos bombeiros evitou que prédios vizinhos fossem atingidos pelas chamas. Não houve feridos.

(Jornal do Brasil, 19/02/97)

 

O processo de criação do texto literário envolve uma capacidade dos autores para criar uma nova dimensão (estética ou artística) da realidade, com uma intenção estética, que não se encontra, necessariamente, vinculada ao mundo real.

Por isso dizemos que, na literatura, temos um mundo ficcional, uma visão individual (subjetiva) de aspectos da realidade que não tem compromisso algum com o caráter documental ou com a realidade concreta tal qual ela nos é apresentada de fato.

Por isso, também faz parte da literatura a intenção lúdica, de criação e de imaginação.

Outra função da literatura é fazer o homem refletir e questionar a realidade em que vive, conforme seus anseios, expectativas e vivências no mundo que o cerca, dentro da sociedade de que faz parte.

 

Portanto, textos não literários buscam informar as pessoas sobre fatos de uma dada realidade e o fazem de forma direta e objetiva, adequando-os aos fins e aos usos de que as pessoas necessitam. Podem ser usados para documentar informações, registrar atos ou simplesmente noticiar diversos assuntos ou acontecimentos, reais ou não.

Já, os textos literários são aqueles que possibilitam uma reflexão sobre a realidade, sem compromisso com a verdade ou com os fatos. Nesses textos, percebemos uma visão pessoal sobre o fato, impregnada de impressões que apenas aquele autor vê no evento, e pode apresentar uma carga de sentimentos e emoções.