É muito importante lembrarmos, ainda que de passagem, de alguns dos conflitos que já ocorreram ou ocorrem no Oriente Médio. Precisamos alertar que, ao analisar esses conflitos, não devemos nos permitir generalizações. Não podemos simplesmente acreditar que todo conflito no Oriente Médio apresenta razões religiosas ou a briga pelo controle do petróleo.
Assim, vamos apresentar alguns eventos importantes na conturbada história recente dessa região:
Guerra civil libanesa: ocorreu no período de 1975 a 1990 e foi desencadeada pelo aumento de refugiados palestinos no país desestabilizando um pacto nacional firmado entre cristãos e muçulmanos. A guerra entre essas comunidades envolveu também intervenções estrangeiras da Síria e de Israel. Ocorreram mudanças na política de alianças da Síria durante a guerra e Israel atacou em várias ocasiões o sul do Líbano procurando desarticular bases de terroristas e da OLP sediadas na época nesse país. Esse conflito destruiu a economia do Líbano que se destacava pelo turismo e até como centro financeiro no Oriente Médio. Terminada a Guerra civil libanesa, procura-se um novo relacionamento entre essas comunidades e a reconstrução do país. Israel completou a retirada de suas tropas do sul do Líbano em maio de 2000, mas ainda permanecem soldados sírios nesse território.
Revolução Iraniana: Em 1979 o xá Reza Pahlevi abandona o poder diante de uma revolução desencadeada pelo grupo xiita e liberada pelo aiatolá Khomeini que vivia exilado na França. A implantação de um governo conservador e ditado por princípios religiosos rígidos impõe normas de conduta à população, principalmente às mulheres e provoca uma reorientação na política exterior desse país. Piora o relacionamento com o mundo Ocidental, especialmente com os EUA. A crise chega a envolver a invasão da embaixada norte-americana em Teerã. Funcionários são tomados como reféns por mais de um ano. O relacionamento com os EUA continua piorando quando o Irã ameaça bloquear o Estreito de Ormuz para a passagem de petroleiros durante a Guerra Irã-Iraque e quando o governo iraniano passa a dar apoio a grupos terroristas. É possível perceber nos últimos anos um avanço de grupos mais moderados no quadro político interno desse país, mas o poder central permanece nas mãos dos aiatolás.
Guerra Irã-Iraque: Em 1979 o Iraque invade o Irã procurando ter o domínio sobre toda a região do Chatt-el-Arab, única saída que o Iraque tem para o mar, além de ser uma área com jazidas de petróleo e terminais marítimos exportadores. A guerra se estende até 1988 com centenas de milhares de mortos. O Irã é acusado de usar crianças nas frentes de batalha e o Iraque de utilizar armas químicas. A economia dos dois países é seriamente prejudicada e, após um oferecimento da ONU de atuar como intermediadora, o conflito é interrompido sem vencedores. O saldo é negativo para os dois que permanecem com péssimo relacionamento até hoje.
Guerra do Golfo: em agosto de 1990 o Iraque invade o Kuweit com a justificativa de que este país estava prejudicando outros membros da OPEP ao vender muito petróleo no mercado internacional levando à queda do preço desse produto. Essa invasão provoca uma reação por parte da ONU que define um prazo para a retirada das tropas iraquianas do Kuweit: 15 de janeiro de 1991. Saddam Hussein não cumpre a determinação da ONU e a partir de 16 de janeiro desenvolve-se a guerra entre o Iraque e uma aliança militar ocidental liderada pelos EUA com autorização para bombardear o Iraque e forçar a desocupação. Em 28 de fevereiro a guerra estava terminada. A superioridade das forças ocidentais rapidamente derrota o Iraque. Na retirada do território do Kuweit poços de petróleo são explodidos causando grande impacto ambiental.
São impostas punições ao Iraque incluindo um bloqueio comercial, o controle da venda do petróleo desse país e inspeções regulares sobre instalações militares. O objetivo é dificultar um rearmamento de Saddam Hussein. Além disso são criadas duas zonas de exclusão militar no Iraque (proibição de movimentação de material militar pesado): uma ao norte, para dar proteção aos curdos, perseguidos e massacrados pelo regime repressor de Saddam Hussein e outra ao sul, para dar proteção aos xiitas. Os dois grupos já tentaram se rebelar contra o governo de Hussein.
Conflito árabe-israelense
Após séculos dispersos pelo mundo, os judeus ensaiam um retorno à sua região de origem, a Palestina, a partir de um movimento, o Sionismo, desenvolvido no final do século XIX. Inicia-se esse movimento de retorno que pregava a constituição de um Estado judeu na Palestina. A perseguição aos judeus imposta pelo regime nazista na Europa acelera a volta desse povo para a Palestina agravando o relacionamento já complicado entre esse povo e os árabes que viviam nessa região. Nessa época a Palestina estava sob mandato britânico e, como não conseguiam resolver o problema do relacionamento entre árabes e judeus (já enfrentando uma guerra civil entre 1936 e 1939), os britânicos passam para a ONU a tarefa de resolver esse problema. Mas, antes de continuarmos a analisar esse conflito e a participação da ONU, vamos inicialmente entender o motivo desse conflito entre árabes e judeus.
Motivo: os dois grupos disputam a região da Palestina. O interesse nessa área diz respeito ao controle de terras (um lugar seguro onde possam viver), de fontes de água (devido ao predomínio de áreas áridas e semi-áridas) e de locais sagrados. A cidade de Jerusalém encerra locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos. Os palestinos-árabes desejam que Jerusalém Oriental se transforme na capital do seu futuro Estado. Judeus conservadores não concordam em dividir o controle de Jerusalém com os árabes.
Principais acontecimentos:
- 1947 - a ONU elabora um Plano de Partilha com a intenção de dividir a Palestina. Parte dessa região seria entregue aos árabes e, outra parte para os judeus. Não houve concordância dos árabes em relação a essa divisão;
- 1948 - no dia 14 de maio é proclamado o Estado de Israel. Os árabes tentam impedir sua criação provocando uma primeira guerra entre eles que termina com a vitória e consolidação de Israel e o desaparecimento do embrião do Estado árabe-palestino;
- 1956 - durante a crise da nacionalização do Canal de Suez pelo Egito, Israel aproveita para atacar esse país e ocupar a Faixa de Gaza e a Península do Sinai, mas por pressões internacionais é obrigada a recuar;
- 1967 - Israel enfrenta o Egito, a Síria e a Jordânia na Guerra dos Seis Dias ocupando a zona oriental de Jerusalém, as Colinas de Gola (Síria), Península do Sinai (Egito), Faixa de Gaza e Cisjordânia (reivindicadas pela OLP - Organização para a Libertação da Palestina);
- 1973 - explode um novo conflito, a Guerra do Dia do Perdão (Yom Kipur -feriado judaico importante). Foi uma tentativa dos árabes de recuperarem os territórios perdidos em 1967. Mas são novamente derrotados por Israel que mantém o domínio dessas áreas;
- década de 1970 - os árabes utilizam o petróleo como arma política provocando dois choques mundiais com a drástica elevação do preço dessa fonte de energia. Assim, os países importadores buscam alternativas em fontes renováveis (como o Pró-álcool no Brasil) ou aumentam a utilização de fontes como a energia nuclear;
- 1979/1982 - Israel e Egito negociam o Acordo de Camp David que resulta na devolução da Península do Sinai ao Egito em 1982 e o reconhecimento de Israel por esse país;
- 1982 - Israel invade o sul do Líbano para tentar destruir a base da OLP;
- 1987 - início da Intifada, rebelião palestina contra Israel em virtude da ocupação de suas terras pelos judeus. A Intifada se agrava nos próximos anos com períodos de interrupção e relativa paz;
- 1993 - no dia 13 de setembro Israel e a OLP assinam o Acordo Gaza-Jericó (Acordo de Oslo) em que se prevê a devolução da Faixa de Gaza e da cidade de Jericó para a OLP. O Acordo prevê desdobramentos com a devolução de outras áreas da Cisjordânia para os árabes (Acordo Oslo I) nos anos seguintes, mas o assassinato do Primeiro Ministro israelense Itzhak Rabin em 1995 complica a situação. Nos anos seguintes, sucessivas trocas no governo de Israel, alternando no poder o Partido Trabalhista (centro-esquerda) e o Likud (direita), dificultam os avanços nos acordos de paz;
- 1998 - com a intermediação norte-americana chega-se a um acordo complementar entre judeus e palestinos-árabes, o Acordo Wye Plantation, para a libertação de prisioneiros palestinos e devolução de mais 13% da Cisjordânia. Em contrapartida a OLP se compromete a combater o terrorismo e a eliminar artigos que pregam a destruição de Israel;
- 2001/2002 - agrava-se a Intifada diante do fracasso das negociações em concluir um amplo acordo de paz entre árabes e judeus, diante da retomadados ataques terroristas e da repressão do Estado de Israel.