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O PRÉ-MODERNISMO

O pré-modernismo deve ser situado nas duas décadas iniciais deste século, até 1922, quando foi realizada a Semana da Arte Moderna. Serviu de ponte para unir os conceitos prevalecentes do Parnasianismo, Simbolismo, Realismo e Naturalismo. 

O pré-modernismo não foi uma ação organizada nem um movimento e por isso deve ser encarado como fase.

Não teve um grande número de representantes, mas contou com nomes de imenso valor para a literatura brasileira que formaram a base dessa fase.

Os autores embora tivessem cultivado formalismos e estilismos, não deixaram de mostrar inconformismo perante suas próprias consciências dos aspectos políticos e sociais, incorporando seus próprios conceitos que abriram o caminho para o Modernismo.

Essa foi uma fase de uma grande transição que deixou grandes obras como Canaã de Graça Aranha; Os Sertões de Euclides da Cunha; e Urupês de Monteiro Lobato.

O que se convencionou em chamar de Pré-Modernismo, no Brasil, não constitui uma escola literária, ou seja, não temos um grupo de autores afinados em torno de um mesmo ideário, seguindo determinadas características. Na realidade, Pré-Modernismo foi um termo genérico para designar toda uma vasta produção literária que caracterizou os primeiros vinte anos deste século, onde encontramos as mais variadas tendências e estilos literários, desde os poetas parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a desenvolver um novo regionalismo, outros preocupados com uma literatura política e outros, ainda, com propostas realmente inovadoras.

Por apresentarem uma obra significativa para uma nova interpretação de realidade brasileira, bem como pelo valor estilístico, o estudo do Pré-Modernismo se limitará a abordar Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos. Assim, abordaremos o período que se inicia em 1902 com a publicação de dois importantes livros - Os sertões, de Euclides da Cunha e Canaã, de Graça Aranha - e se estende até o ano de 1922, com a realização da Semana da Arte Moderna.

 

Momento Histórico

Enquanto a Europa se prepara para a Primeira Guerra Mundial, o Brasil começa a viver, a partir de 1894, um novo período de sua história republicana: com a posse do paulista Prudente de Morais, primeiro presidente civil, inicia-se a "República do café-com-leite", dos grandes proprietários rurais, em substituição a "República da Espada" (governos do marechal Deodoro e do marechal Floriano). É a áurea da economia cafeeira no Sudeste; é o movimento de entrada de grandes levas de imigrantes, notadamente os italianos; é o esplendor da Amazônia com o ciclo da borracha; é o surto de urbanização de São Paulo.

Mas toda esta prosperidade vem deixar cada vez mais claros os fortes contrastes da realidade brasileira. É, também, o tempo de agitações sociais. Do abandono do Nordeste partem os primeiros gritos da revolta.

Em fins do século XIX, na Bahia, ocorre a Revolta de Canudos, tema de Os sertões, de Euclides da Cunha; nos primeiros anos do século XX, o Ceará é o palco de conflitos, tendo como figura central o padre Cícero, o famoso "Padim Ciço"; em todo o sertão vive-se o tempo do cangaço, com a figura lendária de Lampião.

O Rio de Janeiro assiste, em 1904, a uma rápida mais intensa revolta popular, sob o pretexto aparente de lutar contra a vacinação obrigatória idealizada por Oswaldo Cruz; na realidade, tratava-se de uma revolta contra o alto custo de vida, o desemprego e os rumos da República.

Em 1910, há outra importante rebelião, desta vez dos marinheiros liderados por João Cândido, o "almirante negro", contra o castigo corporal, conhecida como a "Revolta de Chibata". Ao mesmo tempo, em São Paulo, as classes trabalhadoras sob a orientação anarquista, iniciam os movimentos grevistas por melhores condições de trabalho.

Essas agitações são sintomas de crise na "República do café-com-leite", que se tornaria mais evidente na década de 1920, servindo de cenário ideal para os questionamentos da Semana da Arte Moderna.

 

Características

Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma escola literária, apresentando individualidades muito fortes, com estilos às vezes antagônicas - como é o caso, por exemplo, de Euclides da Cunha e Lima Barreto, podemos perceber alguns pontos em comum entre as principais obras pré-modernistas:

  • Mesmo com alguns conservadorismos, são obras inovadoras, apresentando uma ruptura com o passado, com o academismo;
  • A linguagem de Augusto dos Anjos, ponteadas de palavras "não poéticas" como cuspe, vômito, escarro, vermes, era uma afronta à poesia parnasiana ainda em vigor;
  • A denúncia da realidade brasileira, negando o Brasil literário herdado de Romantismo e Parnasianismo;
  • O Brasil não oficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios, é o grande tema do Pré-Modernismo;
  • O regionalismo, montando-se um vasto painel brasileiro: o Norte e Nordeste com Euclides da Cunha, O Vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro Lobato, o Espírito do Santo com Graça Aranha e o subúrbio carioca com Lima Barreto;
  • Os tipos humanos marginalizados: o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, os mulatos;
  • Uma ligação com fatos políticos, econômicos e sociais contemporâneos, diminuindo a distância entre a realidade e a ficção.

 

Pré-Modernismo no Brasil

Nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX, o Brasil também viveu sua bélle époque.

Nesse período nossa literatura caracterizou-se pela ausência de uma única diretriz. Houve, isso sim, um sincretismo estético, um entrecruzar de várias correntes artístico-literárias. O país vivia na época uma constante tensão.

Nesse contexto, alguns autores refletiam o inconformismo diante de uma realidade sócio-cultural injusta e já apontavam para a irrupção iminente do movimento modernista. Por outro lado, muitas obras ainda mostravam a influência das escolas passadas: realista/naturalista/parnasiana e simbolista.

Essa dicotomia de tendências, uma renovadora e outra conservadora, gerou não só tensão, mas sobretudo um clima rico e fecundo, que Alceu Amoroso Lima chamou de Pré-Modernismo.

Quanto à prosa, podemos distinguir três tipos de obras:

  1. Obras de ambiência rural e regional - que tem por temática a paisagem e o homem do interior.
  2. Obras de ambiência urbana e social - retratando a realidade das nossas cidades.
  3. Obras de ambiência indefinida - cujos autores produzem uma literatura desligada da realidade sócio-econômica brasileira.

 

Características

A) ruptura com o passado - por meio de linguagem chocante, com vocabulário que exprime a - frialdade inorgânica da terra.

B) inconformismo diante da realidade brasileira - mediante um temário diferente daquele usado pelo romantismo e pelo parnasianismo: caboclo, subúrbio, miséria, etc..

C) interesse pelos usos e costumes do interior - regionalismo, com registro da fala rural.

D) destaque à psicologia do brasileiro - retratando sua preguiça, por exemplo, nas mais diferentes regiões do Brasil.

E) acentuado nacionalismo - exemplo Policarpo Quaresma.

F) preferência por assuntos históricos.

G) descrição e caracterização de personagens típicos - com o intuito de retratar a realidade política, e econômica e social de nossa terra.

H) preferência pelo contraste físico, social e moral.

I) sincretismo estético - Neo-Realismo, Neoparnasianismo, Neo-Simbolismo.

J) emprego de uma linguagem mais simples e coloquial - com o objetivo de combater o rebuscamento e o pedantismo de alguns literatos.

 

Principais autores

Na poesia: Augusto dos Anjos, Rodrigues de Abreu, Juó Bananére, etc..

Na prosa: Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato, Afonso Arinos, Simões Lopes, Afrânio Peixoto, Alcides Maia, Valdomiro Silveira, etc.