Brincar é uma invenção humana "um ato em que sua intencionalidade e curiosidade resultam num processo criativo para modificar, imaginariamente, a realidade e o presente". (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Os jogos e as brincadeiras são ações culturais cuja intencionalidade e curiosidade resultam em um processo lúdico, autônomo, criativo, possibilitando a (re)construção de regras, diferentes modos de lidar com o tempo, lugar, materiais e experiências culturais, isto é, o imaginário. A natureza dos jogos e das brincadeiras não é discriminatória, pois implica o reconhecimento de si e do outro, traz possibilidades de lidar com os limites como desafios, e não como barreiras. Além disso, os jogos e as brincadeiras possibilitam o uso de diferentes linguagens verbais e não verbais, o uso do corpo de formas diferentes e conscientes; a organização, ação e avaliação coletivas.
Alguns autores consideram os termos "jogo", "brinquedo" e "brincadeira" como sinônimos, pois todos eles sintetizam a vivência do lúdico. Huizinga, autor clássico na teoria do jogo, afirma ser esse um fenômeno anterior à cultura.
O jogo cumpre funções sociais. É uma ação voluntária, desinteressada, é liberdade. Provoca a evasão da vida real para uma esfera temporária de atividade com orientação e espaços próprios. Todo jogo tem regras, pois ele cria orde, absorve inteiramente o jogador que, ativamente, participa criando e recriando regras.
Falar sobre o jogo, enquanto manifestação da cultura corporal, significa traçar o que foi desde sua constituição até a atualidade, para refletir sobre as possibilidades de recriá-lo por meio de uma intervenção consciente.
Os jogos existem desde a pré-história e seus registros indicam as mais variadas formas de jogar, nas diversas partes do mundo. Como forma de manifestação da cultura de povos na Ásia, na América pré-colombiana, na África, na Austrália e entre os indígenas das ilhas mais longínquas do Oceano Pacífico, foram encontrados jogos de expressão utilitária, recreativa e religiosa (RAMOS, 1982, p.56). Alguns jogos passaram por alterações e muitos deles vieram compor um elenco de modalidades que mais tarde foram disputadas nos Jogos Olímpicos da Grécia antiga. Este último evento tinha, em sua origem, como um dos princípios, a finalidade de aclamar os deuses do Olimpo.
Porém, muito anterior a este evento, desde o surgimento do homem, há registros de jogos, encontrados em paredes de cavernas espalhadas pelo mundo. Este fato retrata a necessidade que já se apresentava de dar aos momentos de luta pela sobrevivência (atividades como a caça e pesca), tão essencial quanto o raciocínio, portanto, o elemento lúdico está na base do surgimento e desenvolvimento da civilização.
Os jogos, entendidos como motivações para a vivência lúdica, podem ser categorizados em quatro grupos, a saber: os jogos de aventura, aqueles que nos colocam diante do novo, do mistério (um filme, um livro, uma partida de futebol, passeios e viagens, uma festa, dentre outros); os jogos de competição (e aqui entram também os de cooperação); os jogos de vertigem, aqueles que dão um friozinho na barriga, como os escorregadores, cama elástica, montanha-russa, pular, saltar; e, por fim, os jogos de fantasia, que lidam com o simbólico, o imaginário e o faz de conta.
A festa, por sua vez, é entendida como um fenômeno social que inclui celebração, diversão, evento, espetáculo, brincadeira, exaltação, trabalho e lazer. É tempo e espaço para a expressão, encontro, oração, manifestação, reivindicação. É o que permite ao homem e à sociedade se manterem vivos, pois é ela a própria humanidade do homem. Recuperar, relembrar, reconstruir, vivenciar o brincar, o jogar e o "festar" na escola possibilitam a vivência do caráter lúdico que acompanha tais práticas corporais. O jogo, a brincadeira e a festa, para além do prazer, da satisfação, são entendidos como instantes de reconhecimento do homem como produtor de história e de cultura, por isso merecem ser problematizados. O direito de brincar é entendido como direito à liberdade e foi contemplado na legislação brasileira através do Estatuto da Criança e Adolescente.
É importante considerar que as brincadeiras, por mais "ingênuas" que possam parecer, podem contribuir com determinado projeto de sociedade, por isso precisam ser discutidas e ressignificadas.
Além disso, muitos jogos e brincadeiras têm como objetivo eliminar aqueles jogadores que "erram", reforçando a exclusão. Os jogos e as brincadeiras tornam-se assim, espaços educativos de vivência e reflexão dos princípios norteadores desta proposta.
O jogo é uma atividade livre que deve ser realizada sem o caráter da obrigatoriedade. Possibilita a liberdade e a criação, permitindo o surgimento de outras formas de jogar, implica um sentido e um significado que, com o tempo, passam a fazer parte da cultura do grupo, comunidade, povo ou nação que o inventou. Você pode perceber isto se buscar um jogo que é típico em sua região, mas que poderá ter características diferentes ou nem existir em outra região do país.
Sua importância, enquanto conteúdo da disciplina de Educação Física, está na representação das raízes históricas e culturais de diversos povos, bem como as transformações ocorridas ao longo do tempo que possam ter causado modificações no modo como se joga determinado jogo em várias partes do mundo. É importante, também, considerar o jogo em seu processo de criação, recriação e readaptação, levando-se em conta as possíveis influências políticas, econômicas e sociais pelas quais tenha passado, dando-lhe uma nova configuração e uma compreensão crítica. Enfim, é uma produção humana que tem um “(...) significado dentro da produção coletiva dos homens vivendo em sociedade” (BRUHNS, 1996, p.29).
O jogo tem se transformado numa atividade competitiva institucionalizada, regida por um conjunto de normas e controlada por organizações que promovem o desenvolvimento das modalidades, atendendo aos interesses do modo capitalista de produção. Nos grandes eventos esportivos internacionais, pode-se dizer que a confraternização entre os povos acontece, mas a competição é um dos seus principais objetivos. Porém, quem são os maiores beneficiados com toda esta situação? Reflita sobre esta questão.
Existe hoje uma infinidade de jogos conhecidos, como: faz de contas, simbólicos, motores, sensório-motores, intelectuais ou cognitivos, individuais ou coletivos, metafóricos, verbais, de palavras, políticos, de adultos, de crianças e uma infinidade de outros, cada um com suas especialidades e efeitos dentro de um contexto social e cultural em que estão inseridos.
Fontes consultadas:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/
http://www.msofia.com/